Em dezembro de 2014 participamos da feira Vinitech Sifel, em Bordeaux, França, a convite de uma entidade de promoção internacional da região do aquitaine. Esta feira é um dos maiores eventos mundiais de tecnologia em viticultura. Gostaríamos de compartilhar nesse post algumas de nossas percepções sobre o que está acontecendo no mundo vitivinícola:
Mecanização
Na Europa como um todo, a escassez de mão de obra fez com que o desenvolvimento de alternativas de mecanização atingisse o patamar máximo. Desde o plantio das mudas até a colheita e seleção dos grãos, tudo está automatizado. A maioria desta tecnologia está ainda restrita a utilização do sistema de espaldeira, a uma topografia plana e ao ganho de escala, este último aspecto, mais saliente tratando-se da colheita mecanizada, que somente se viabiliza com algumas centenas de hectares plantados. Nada encontramos de alternativas para a mecanização de podas e colheitas para o sistema latada, o mais difundido no Brasil. Deveríamos nós desenvolver essas alternativas nacionalmente ou poderíamos estudar alternativas de condução mais mecanizáveis para nossa grande produção de uvas americanas?
Redução no uso de agrotóxicos e combustíveis
A tecnologia auxilia também na sustentabilidade. Variedades de uva resistentes a doenças fungicas e a podridões, que reduzem a necessidade de tratamentos, sendo desenvolvidas pelos principais institutos de pesquisa mundiais, pulverizadores que recolhem o excesso de agrotóxicos, roçadeiras escamoteáveis que alcançam a vegetação entre plantas e eliminam o uso de herbicidas, e finalmente tratores elétricos, chegando com força as lavouras. Sem duvida essa tendência veio para ficar.
Medo de pragas
Talvez um dos assuntos mais comentados nas rodas de produtores locais e pelos institutos de pesquisa da região de Bordeaux tenha sido o da Inflorescência dourada “Flavescence dorée’’, uma doença bacteriana transmitida por uma espécie de cigarrinha, que causa sintomas de avermelhamento nos ramos de uvas tintas, amarelamento nos ramos de uvas brancas , mortalidade de inflorescências, podendo causar até morte de plantas. Alguns mais pessimistas chegaram a comentar que essa praga pode se equivaler a Filoxera, em termos de prejuízos ao vinhedo. Outros, otimistas, creem que a doença é facilmente controlável, combatendo o inseto transmissor. Todavia, de acordo com alguns depoimentos, o elevado numero de vinhedos adotando práticas orgânicas tem dificultado o combate. Esse é um capítulo ainda em desenvolvimento.
Em resumo, conhecendo melhor as tecnologias disponíveis mundialmente em termos de mecanização, fica muito claro que estamos muito aquém do restante do mundo, talvez não tanto em termos enológicos quanto estamos em termos vitícolas. O Brasil, através de seus viticultores mais ousados, deverá nos próximos anos atualizar seu maquinário, mas sem duvida, muito faltará para que esses equipamentos estejam disponíveis para o viticultor comum.